Westwing e Zarpo – Entenda a aquisição e a tese por trás deste movimento!
Entenda as motivações da compra da Zarpo pela Westwing e o que isto pode representar para o setor
UPDATE 13/12/2021: As partes não chegaram a um acordo, e as negociações foram canceladas!
Meu palpite: Como as ações da Westwing despencaram, e provavelmente o deal envolvia troca de ações, o múltiplo não deve ter ficado atraente para os acionistas da Zarpo.
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Há alguns dias, o mercado foi surpreendido com a notícia que a Westing comprou a Zarpo Viagens, travel tech focada em hotelaria de luxo, lançada em 2011 e que fez R$ 160M de GMV (Gross Merchandise Volume) em 2019.
Este texto tenta elucubrar a tese desta inusitada aquisição.
Primeiro, vamos entender um pouco sobre a história Westwing e sobre a Zarpo.
Sobre a Westing
A Westwing foi lançada em 2011 no Brasil, na leva de dezenas de startups lançadas pela alemã Rocket Internet (Mobly, Tricae, Hellofood, Kanui, Dafiti, Westwing, Easy Taxi, ClickBus, Groupon, Airu, ZocPrint, Tripda, Helpling e Cuponation), até 2017 ela estava sob a tutela da operação européia, mas em 2018 ela foi regionalizada, com outros sócios e hoje não tem nenhuma relação com a sua “mãe” alemã (exceto o nome).
Segundo o próprio prospecto:
“Após um período de rápida expansão de 2012 até 2016 (em que crescemos, em termos de GMV, em média 34% a.a.), passamos a contar com menos investimentos dos nossos antigos controladores, que decidiram focar seus recursos no mercado europeu. Essa retração de investimentos, principalmente nas áreas de tecnologia da informação e marketing, resultou em uma desaceleração do nosso crescimento até o ano de 2018, quando nos tornamos totalmente independentes do grupo alemão, após um management buyout patrocinado pelo Axxon Group”
O negócio principal da Westwing é uma base de aproximadamente 9milhões de usuários cadastrados, que buscam oportunidades de compra de produtos com alta curadoria focado em “lifestyle” no segmento de casa & decoração, mas também em outros segmentos como “moda, cosméticos, ingredientes premium, produtos infantis” que já representam 13% do GMV da empresa.
A Westwing foca no modelo inspiracional e não transacional, e eles deixam isto bem claro em suas apresentações aos investidores.
Veja na imagem abaixo, retirado do prospecto:
Em 2020, a empresa atingiu R$ 372,6M de GMV, um crescimento de 96% sob 2019.
No dia 10 de fevereiro deste ano, a empresa, aproveitando a euforia do mercado com ativos de tecnologia, e com um empurrão da Covid-19, onde milhões de pessoas foram forçadas a ficar em casa e naturalmente investiram mais em produtos de casa & decoração, abriu capital na B3, e desde então, suas ações já caíram 63%.
Veja, uma pessoa que investiu R$ 100mil reais no IPO da Westwing, hoje tem “apenas” R$ 37mil reais na conta.
Sobre a Zarpo
A Zarpo é uma agência online focada em hotelaria de luxo, foi fundada em 2011, por três franceses, de olho na classe A e B. A empresa tem uma vantagem competitiva, pois os preços não ficam “públicos”, pois só está disponível para membros cadastrados (aproximadamente 8milhões), e isto faz com que a empresa consiga burlar as questões de paridade tarifária, muito comum em OTAs que possuem seus preços acessíveis para sites como Google Travel e Trivago.
A empresa levantou R$ 4,5milhões em investimentos “série A” em 2013 e desde então, tem crescido com a própria geração de caixa da empresa, em 2019 anunciou um GMV de R$ 160M e R$ 115M em 2020 (para fins de comparação, a Hurb, do mesmo segmento anunciou que fez R$ 3.2B em reservas em 2020).
Embora tenha tido um GMV de 160M em 2019, aparentemente a Zarpo não estava crescendo mais como no início da sua operação, haja visto que em 2017 uma reportagem da empresa anunciou os mesmos R$ 160M de GMV.
Como se ela estivesse há 2 anos exatamente do mesmo tamanho.
Westing e Zarpo Juntas?
Estamos passando por profundas transformações nos negócios, há 20 anos atrás, era muito fácil identificar o segmento de cada empresa, hoje está cada vez mais confuso estas distinções.
Veja, a Magalu, que antes vendia apenas eletrodoméstico, tem empresa de mídia, de moda, de pagamentos e acredite, até delivery de comida 😉 (eu já apostei que em algum momento a gigante de franca entra em viagens)
A Via, que antes era essencialmente varejo, comprou empresa de logística e investiu em três fintechs.
O Banco Inter, que era um banco, agora oferece shopback e também vende passagem aérea.
A Stone, que ofereceria apenas maquininha, se meteu no mercado de ERP para o varejo ao comprar a Linx, e comprou até uma empresa de plano de saúde, e a TOTVs, que historicamente sempre vendeu soluções de gestão empresarial, comprou uma empresa de tecnologia para marketing 😉
Especificamente, em travel, lá fora, de olho no protagonismo para oferecer serviços para as empresas, a Volkswagen comprou a Voya, uma startup de business travel com modelo de negócios semelhante ao da Onfly.
A Sodexo, empresa líder de benefícios, comprou uma plataforma de expense e business travel para adicionar na sua oferta às empresas.
A AirAsia, gigante aérea asiática, comprou o Superapp Gojek’s por U$ 50milhões, a Enterprise Holdings, empresa de mobilidade e aluguel de carros com U$20B de receita em 2020, dona de marcas como Alamo e Enterprise, comprou a Deem, uma espécie de OBT.
E aqui no Brasil, recentemente, a Decolar.com anunciou a compra de 84% da fintech Koin por R$ 20milhões.
A Westwing deixou muito claro no IPO, que pretende adentrar em outros mercados, que façam sentido na jornada do seu consumidor, dentro da vertical de lifestyle.
“…Ao longo dos últimos anos ampliamos o sortimento de produtos principalmente na categoria de casa e decoração, mas também fomos capazes de ampliar nossa oferta de produtos em categorias adjacentes, como produtos de beleza, moda, ingredientes premium, entre outros.”
Especificamente o mercado de viagens, ele é altamente transacional e com excelente recorrência, portanto, trazer a marca e curadoria da Zarpo para dentro da Westwing pode ser aquele negócio onde: 1 + 1 = 3.
Clientes da Westwing vão poder viajar mais, utilizando curadoria de produtos da Zarpo, e efetivamente deixando mais dinheiro para a companhia, e clientes da Zarpo poderão ser apresentados a novos produtos que podem fazer parte da sua jornada.
Ademais, a Westwing foi alavancada por um momento de mercado que dificilmente vai acontecer novamente, milhões de pessoas em casa, sem poder se locomover, viajar ou até mesmo ir para o escritório, e naturalmente investiram mais dentro de casa.
Pensa que o dinheiro troca de mãos, e o dinheiro que as pessoas pagariam para viajar com família, foi alocado para investir em suas próprias casas, e empresas como Mobly e Westwing foram incrivelmente privilegiadas com este movimento.
Agora a situação se inverte, as pessoas querem viajar, e a Westwing vai se beneficiar deste novo crescimento.
Para os acionistas da Zarpo, um momento perfeito para realizar o chamado “exit” do negócio, onde fazem o desinvestimento com boa valorização do investimento da largada, para os acionistas da Westwing, uma vertical fértil, com alto volume transacionado, excelente recorrência, e ainda pouco digitalizado, para ser explorado.
Suponho que a Westwing seja a pioneira neste movimento de M&A em viagens, a Privália que tentou abertura de capital sem sucesso este ano, também já anunciou que deseja entrar no segmento de viagens.
Banco Inter e Rappi entraram na vertical com time próprio, sem aquisições.
Na estratégia de SuperApp publicamente anunciada pelo MercadoLivre, Magazine Luiza e Pagseguro, a oferta de viagens é uma bela oportunidade para retenção e aumento de volume transacional, vide Fliggy Travel, na China que pertecene ao Alibaba.
Podemos estar diante de um um início de movimento, que pode impactar todo o setor de viagens (e o trade turístico), players relevantes de outras indústrias entrarem forte neste mercado.
É aguardar, para ver…