Finalmente, Travel techs…

Precisamos falar das travel techs, da sua importância para o protagonismo do turismo no Brasil e das barreiras de entrada em empreender neste setor.

Na semana passada a Onfly recebeu o prêmio de Traveltech n. 1 da 100Open Startups, organização, que mede a atratividade de startups em relação as suas conexões com empresas, através de uma metodologia própria, bem interessante e rigorosa de validação de contratos.

Já contamos e comemoramos sobre isto em outro post, portanto, o intuito deste post não é jogar confete ou fazer mais barulho, estou convicto que todas as 10 premiadas da categoria são merecedoras de aplausos, e por qualquer mudança aleatória de critério, a Onfly poderia ter ficado em outro lugar, e ficaria absolutamente tudo bem também!

Mas veja, o mais legal para mim, este ano, é ver definitivamente uma instituição respeitada como a 100Open trazer luz ao assunto “travel tech”.

Nós iniciamos esta jornada em outubro de 2018, e como fundador em busca de capital e conhecimento, eu apliquei a Onfly em dezenas de processos de aceleração e de captação de investimento, e na época, ninguém sequer falava sobre “travel tech”.

Sabe aqueles formulários de aplicação?

Então, a categoria “Travel Tech” não existia como vertical de atuação, falava-se de Edtech, Fintech, Retail tech, Agrotech, Proptech, Securitytech, Insurtech, Mobilitytech, Govtech, Hrtech, Martech, Logtech, etc.. etc.. etc.. mais etcetêras, mas não aparecia Travel tech.

Eu nunca me incomodei em nunca ter sido aprovado ou chamado para nenhum destes processos, entendo que negativas faz parte da jornada (a propósito, a taxa de conversão por aqui é de 1 sim para cada 60 nãos, olhe este TEDX para entender o que estou dizendo), mas ficava profundamente incomodado em não ter a categoria “Travel tech”.

Perceba a distorção, o setor turístico, é de longe, um dos mais relevantes do mundo, estima-se que em 2019 ele representou aproximadamente 10% do PIB mundial, portanto um terreno fértil e repleto de oportunidades para ser transformado com aplicação intensiva de tecnologia.

Logo, não fazia nenhum sentido a ausência desta categoria dos holofotes e o baixo investimento de capital de risco no setor.

Na rota global do E-commerce, Turismo foi um dos primeiros setores a se digitalizarem

O Ebit/Nielsen, maior referência em pesquisas sobre o mercado de comércio eletrônico no Brasil, identificou a rota global do e-commerce, os setores que foram impactados pelo comércio eletrônico no mundo, em aproximadamente seus 26 anos de história, desde o surgimento da internet comercial lá por volta de 1994 (A Amazon foi criada em 1994, a Booknet, futura Submarino, em 1995).

Neste estudo, o Ebit identificou que o turismo foi a segundo setor a ser transformado pelo e-commerce.

Veja, Decolar.com, gigante OTA foi lançada em 1999, e já vendia passagens e hotéis online, a brasileira GOL, lançada em 2001 já nasceu digital, sem bilhetes físicos e vendendo passagens pela internet.

Portanto, o turismo está na internet desde o seu início.

Depois de um grande hiato, entre 2001 e 2005, sem muita iniciativa em negócios digitais, provocado sobretudo pela desconfiança do mercado pela crise da bolha das “ponto.com” lá em 2001, surgiram aqui no Brasil o Submarino Viagens em 2006 (criado pela Submarino, sim, ela teve a oportunidade lá trás de criar o primeiro SuperApp no Brasil e não executou bem), a  Viajanet em 2009, o Hotel Urbano em 2011 (que virou Hurb após alguns anos), depois Clickbus, Zarpo, Maxmilhas, 123milhas, e mais dezenas de plataformas online de reservas de passagens aéreas, hotéis e pacotes de viagens, e até mesmo plataformas digitais focadas em viagens corporativas (OBTs) como Reserve, Lemontech e Argo, que foram criadas entre 2010 e 2011.

O mapa das travel techs, o início de um storytelling!

Inspirado por diversas referências de outros setores, como mapa das fintechs e edtechs, optamos por criar ainda no ano passado, de forma bem despretensiosa um mapa com diversas empresas de tecnologia e turismo, que conseguimos mapear ao longo de 20 dias.

Inspirados pela definição da Lufthansa Labs (se quer um conselho, siga o Lufhtansa Labs, o conteúdo deles é muito bom), onde inclui na mesma jornada do cliente mobilidade e turismo, decidimos incluir empresas de mobilidade no mapa, isto permitiu incluir  algumas startups que já eram bem conhecidas no mainstream, como a 99, primeiro unicórnio verde e amarelo, e a Buser, que na época tinha levantado uma bela rodada.

Denominamos este trabalho como “Mapa das Travel techs”, e mesmo sem nenhuma assessoria de imprensa próxima para dar eco ao trabalho, por sorte conseguimos um bom destaque na mídia especializada (aqui e aqui) e em outras mídias focadas em empreendedorismo como Startupi.

Tomamos algumas pedradas, críticas, e resmungos, mas tudo bem, corrigimos o que era necessário, e deixamos melhorias para uma versão futura, eu sempre acreditei na importância da iniciativa.

A propósito, preciso reconhecer, foi um trabalho incrível  do Vinícius Lima, nosso analista de marketing na época, e contamos com apoio de pessoas fantásticas da indústria criticando o trabalho previamente.

Como citado inicialmente neste post, Travel techs existem há mais de 20 anos, então, estamos muito longe de querer levantar a bandeira de algum pionerismo, mas só agora, onde todos querem ser “tech” e ativos de tecnologia ganham destaque no Brasil, o termo começa a ganhar força.

Este ano, o Fernão Loureiro, fez um trabalho bem melhor e mais profissional com o Anuário de Travel techs, onde mapeou mais de 200 empresas de tecnologia e turismo, por aqui, não fizemos absolutamente nada (aliás, eu fiz um artigo para abertura do anuário, apenas isto) , o trabalho foi todo conduzido pelo Fernão e o seu incrível time.

Novamente, ganhou destaque em vários portais (Parabéns Fernão).

Há, importante lembrar também, o Vinícius Geraldo, também faz um trabalho foda com o Traveltech.space, fóruns, eventos e cursos relacionados a tecnologia e transformação da indústria de hospitalidade e turismo.

Muito do que sai hoje sobre o assunto é mérito dele e de todo o time que trabalha incansavelmente neste projeto (parabéns Vinícius).

Travel techs agora é Pop

O massa desta história, que agora, “Travel é Tech, Travel é Pop, Travel é Tudo” (Kudos Rede Globo), o tema entrou forte no mainstream e a gente consegue ver até algumas  publicações sobre o assunto por aí.

Para fins de comparação, se buscarmos por “‘travel tech’ brasil” no Google News entre 2008 e 2018, temos apenas um registro, a mesma busca nos últimos 2 anos, trouxe 16 resultados.

Se fizermos a mesma busca pelo termo “agrotech”, é pelo menos 2X o  número de resultados, logo  por mais que o tema esteja conhecido, comparado com alguns outros segmentos, ainda é um volume baixo, ou seja, estamos ainda no início desta jornada 😉

Você percebe quando o assunto fica mais quente, quando até analista de investimento de fundos de gestão, daqueles bem  tradicionais que ficam  na Faria Lima, que historicamente sempre se pautaram em termos financeiros como EBITDA e ROE, começam a  te sondar para entender sobre este assunto, buscando entender oportunidades e o futuro do mercado de turismo.

De verdade, ninguém mais acredita no futuro de nenhum mercado, que não seja fortemente impactado pela tecnologia.

Empreender no turismo, precisamos falar sobre isto!

O turismo, em geral, é um mercado dominado por players tradicionais, que historicamente investiram pouco em inovação e tecnologia (exceto alguns poucos players) e que se beneficiam de uma cadeia ineficiente e de uma barreira de entrada gigante.

Eu venho do segmento de e-commerce, de calçados, para fins de comparação, para um empreendedor começar uma loja online de calçados, depois de abrir um CNPJ, ele vai em uma feira de calçados (Francap), compra lá algumas centenas de pares de calçados, vai na Nuvemshop, cria um e-commerce, entra no Bling e pluga o e-commerce em vários marketplaces, e voila, começa a operar.

No turismo, você não consegue tocar a campainha da cia aérea e começar a vender passagem, ou ir no hotel, e plugar na API, sequer ir na Locadora de carros e poder distribuir aluguel.

A maior locadora de carro do país pediu para gente 2 anos de CNPJ, cia aérea sequer atende o telefone, demoramos quase 18 meses para conseguir sinal com as cias aéreas, depois de longos ciclos de conversa, validação, convencimento, retirada do IATA e análise de crédito, acredite, foi uma jornada árdua.

Empreender no turismo é tipo correr com uma bola de ferro amarrado no seu pé, incrivelmente a parte mais fácil é abrir o CNPJ, todo o resto, parece que é feito para beneficiar poucas pessoas.

Precisamos urgentemente deixar o ambiente mais transparente, claro e fácil para novos empreendedores entrarem neste mercado, algumas empresas cercadas pela narrativa de regular o mercado, e presas a um passado pujante e de altas margens, trabalham intensamente para blindar o mercado de novos competidores, e não para o benefício dos clientes.

Note, é uma corrida tola, a única forma de uma empresa se manter relevante é investir continuamente e priorizar o cliente, e não criando barreiras de entrada mirabolantes para novos competidores.

Vamos lembrar, no final, o cliente paga a p%$!rra toda!

Precisamos pensar o que é melhor para o cliente, dentro de uma cadeia devidamente equilibrada, e ponto final.

O resto, o mercado se equilibra.

Conseguimos de certa forma “furar a bolha”, outras travel techs também conseguiram, decerto, que depois de muita portada na cara e esforço hérculeo, e poderiamos até usar isto a nosso favor criando alguma associação de “travel techs” e nos defendendo dos novos entrantes, mas note, a melhor forma da gente gerar valor para o mercado é competindo em alto nível, investindo fortemente em inovação e tecnologia, e não tentando impedir que novos players surjam.

Eu vejo os caras novos que surgem, os antigos que investem, todos meus concorrentes,  e penso que estes caras estão elevando o nível, em geral, me forçam a trabalhar melhor, em prol, adivinhem, dos clientes 😉

Eu tenho certeza que este não é um jogo de “winners takes all”, temos infinitas oportunidades de melhorar o setor com aplicação de tecnologia, e precisamos de mais competição e menos monopólio.

Fica a dica para as companhias aéreas, redes hoteleiras e locadoras de carro, em pensar em como criar mecanismos que novos empreendedores apareçam com menor fricção possível (exigir 2 anos de CNPJ para uma startup é de uma miopia tremenda, convenhamos).

Concluindo o ensaio…

Especulo que nos próximos 10 anos,  travel techs de diversos segmentos do turismo vão assumir o protagonismo do setor, trazendo práticas novas, melhoria de experiência e mais economia para os viajantes.

Precisamos definitivamente devolver o protagonismo do turismo para o Brasil, e para isto acontecer, vai ser inevitável aplicar uma intensa dose de tecnologia no setor.

Por mais travel techs no Brasil \o/

travel techs brasileiras
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Marcelo Linhares
Marcelo Linhares

Marcelo Linhares é um dos fundadores da Onfly, possui mais de 10 anos de experiência em marketing digital e varejo omnichannel, nos últimos 2 anos estudou o mercado de viagens e percebeu que as agências tradicionais trabalhavam da mesma forma há 20 anos, e resolveu criar a Onfly para transformar este mercado. Ele está sempre disponível no e-mail marcelo@onfly.com.br

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