Tudo sobre as cias low costs e seus impactos no mercado brasileiro
Conhecidas e consolidadas no mercado americano e europeu. As companhias aéreas low costs chegaram ao Brasil com muitas expectativas e burburinhos. Saiba nesse artigo o que são as cias low costs e qual é o seu impacto para o mercado brasileiro de aviação.
O que são companhias aéreas low costs?
As companhias aéreas de baixo custo ou low costs, são empresas de transporte aéreo que assim como o nome sugere, possuem tarifas mais baratas do que a média e que cabem no bolso do viajante.
O modelo surgiu na década de 90 nos Estados Unidos, posteriormente na Europa e Ásia como um verdadeiro marco na indústria da aviação. As low costs conseguiram democratizar e popularizar as viagens de avião, revolucionando a experiência de viajar em todo o mundo.
Desde 2019, a lei 13.842/2019 permitiu a participação de 100% de capital estrangeiro em empresas aéreas brasileiras e facilitou a entrada das cias low costs no Brasil com tarifas muito competitivas.
Porém, como funciona esse modelo? Por que essas empresas conseguem cobrar um valor tão barato pelos bilhetes aéreos?
Como funciona uma cia low cost?
Existem alguns fatores que são cruciais para que essas empresas consigam oferecer preços baixos:
1 – Venda de tarifas que incluem somente o ticket aéreo
Isso mesmo, quando você compra uma passagem aérea em uma companhia low cost, você paga somente pelo ticket aéreo. Todos os outros serviços que são comuns nas companhias aéreas brasileiras como bagagem de mão, check-in no aeroporto, refeição a bordo e conforto nos assentos, são exemplos de itens cobrados nas cias aéreas de baixo custo.
Se nós pegarmos esses serviços agregados a fim de classificar o que é uma low cost ou não, a linha de categorização e diferenciação entre as empresas fica um pouco tênue e até mesmo confusa. Já que hoje no Brasil, o serviço de bordo foi praticamente extinto, as bagagens passaram a ser cobradas e para marcar um assento, você deve pagar por ele, ao menos que você seja um membro VIP do programa de fidelidade da cia aérea.
Ou seja.. precisou remarcar a passagem? você paga. Quer comer um lanchinho a bordo? vai ter pagar. Quer marcar assento? Paga também. Não tem escapatória, cabe ao consumidor avaliar o que é vantajoso ou não, o custo benefício e se vale realmente a pena colocar um viajante de negócios em uma companhia low cost. Qual seria o ROI dessa viagem? Qual é o tempo do trajeto total? Ele chegaria com conforto e disposto a encarar uma reunião super importante após a viagem? O que pode ser bom para o mochileiro, as vezes não compensa para o colaborador da sua empresa.
2- Receita com publicidade e canais de venda pela internet
Em 2018 tive uma experiência com a Ryanair, uma companhia de baixo custo do Reino Unido e uma das mais famosas do mundo inteiro. No meu voo de Londres à Berlin, fiz minha reserva pela internet em um voo internacional em que paguei somente 14,99 GBP (Libras Esterlinas).
Como citei anteriormente no tópico anterior, paguei somente pelo ticket aéreo, ao finalizar a compra, a companhia aérea ofereceu vários serviços complementares que poderiam ser agregados a minha reserva conforme na imagem abaixo. Prática bastante comum entre as cias aéreas de todo o mundo, mesmo entre as low fares e as de luxo.
Mesmo durante o voo, os anúncios não param, propagandas de outras marcas na pintura de alguns aviões, produtos de free shop comercializados pelos comissários de bordo são práticas comuns entre as companhias low costs da Europa.
Outro ponto importante que influencia muito na receita dessas empresas: O canal de venda da maioria dessas companhias aéreas, é totalmente online, por meio de vendas diretas em seus websites de forma simplificada, sem lojas físicas, intermediadores, calls centers e também sem o uso de portais GDS (Sistemas globais de distribuição de passagens), por isso, as opções low costs não aparecem na maioria dos buscadores de passagens online.
3- Frotas padronizadas e assentos com pouco espaço – Economia é o pilar
As aeronaves das empresas low costs costumam serem do mesmo modelo, isso acontece para reduzir treinamento de pilotos e os custos de manutenção entre os equipamentos.
Outra característica bastante comum, é o espaço pequeno entre as poltronas ( que ainda por cima não são reclináveis), com isso, a quantidade e a densidade de assentos dentro de cada aeronave é muito maior. Na Ryanair, cia aérea que foi citada anteriormente , o espaço entre os assentos é de 76 centímetros, enquanto das companhias aéreas brasileiras mais tradicionais como a Latam, o espaço na cabine econômica chega a ser de 81,28 cm.
Se você estiver achando o espaço muito pequeno, temos uma péssima notícia para você: Existe uma tendência dos espaços ficarem menores ainda e você poder viajar praticamente em pé, o espaço de 76 cm entre os assentos, passaria para 58,4 cm. Nem adianta optar pela classe executiva, pois essa categoria não existe entre a maioria das low costs, outra vez, a padronização e a economia são pilares dessas empresas.
4- Operação em terminais aeroportos menos utilizados
O uso de aeroportos e terminais secundários é uma prática bastante comum entre as low costs em cidades que possuem mais de uma opção . Além do mais, essas empresas aéreas alinham sua logística para passarem o menor tempo possível em solo, a fim de otimizar o tempo e minimizar os custos com taxas aeroportuárias.
Existem países e cidades que oferecem subsídios e incentivos para que as companhias aéreas de baixo custo instalem suas operações no destino. Por conta do retorno dessas empresas ao turismo, economia e no preço das passagens nas mesmas rotas operadas.
No Brasil, esse cenário é um pouco diferente, temos muitas taxas aeroportuárias e sistemas engessados, que podem dificultar essas operações. Outro ponto importante, é a falta de sistemas de conexão entre o transporte público e os grandes centros urbanos. O que pode inviabilizar as operações das cias low costs em alguns destinos brasileiros.
5 – Sem milhas, sem programas de fidelidade
Se você pretende viajar de avião, pagando pouco e ainda acumular milhas ou pontos em programas de fidelidade, pode esquecer. A maioria absoluta das companhias de aviação low costs não possuem nenhum programa que contempla o acúmulo de pontos para fidelização do consumidor.
Hoje, nas companhias aéreas mais tradicionais, existem tarifas de passagens aéreas que custam mais caro por conta do maior acúmulo de milhas na cia aérea. Como a intenção das companhias low costs é fornecer condições de passagens baratas aos viajantes, opções de bilhetes aéreos que dão milhas extras não entram como opção na maior parte dos casos.
Qual é a diferença entre uma companhia aérea low cost e uma tradicional?
A Onfly fez um comparativo entre as duas categorias de cias aéreas, dá uma olhada abaixo:
Chegada das cias de baixo custo no Brasil, quem são elas?
Hoje no Brasil, temos 6 companhias aéreas low costs já em operação:
- Air China
- Air Europa
- Flybondi
- Jet Smart
- Norwegian Air
- Sky Airline
Dentre essas empresas, somente a Air Europa em parceria com a Gol, opera também em voos domésticos. Já o restante das low costs no Brasil, operam somente em rotas internacionais a partir de cidades específicas como São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Além dessas empresas, outras cias aéreas low costs já demonstraram interesse em já receberam autorização da ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) para darem início às suas operações em território brasileiro, são elas:
- Air Nostrum
- GulfAir
- Virgin Atlantic
Qual é o principal desafio das low costs no Brasil?
Por que somente uma cia low cost, mesmo após a abertura de 100% do capital estrangeiro está operando em voos nacionais?
A resposta é que operar nas terras canárias é caro. Com judicialização burocrática e forte para o setor de aviação. Um dos fatores de maior peso são as altas taxas e impostos (uma das maiores do mundo), que estão presentes principalmente nos aeroportos e no combustível utilizado pelas companhias aéreas.
Os custos operacionais e tributos regionais sobre o combustível, possuem uma alíquota que varia entre 3% a 25%, sem contar que hoje no Brasil, temos somente um produtor de querosene (a Petrobras), ou seja, não existe concorrência. Alguns estados como o de São Paulo, já chegaram até a fazer acordos com as cias aéreas para redução da alíquota do ICMS do querosene de 25% para 12% em troca de novos destinos regionais e uma maior oferta de voos dentro do Estado.
Em mercados mais maduros, onde as low costs já estão consolidadas como Estados Unidos e Europa, não há essa tributação sobre o combustível aéreo. No Brasil, os custos com combustível giram em torno de 35% a 40% do custo do negócio, enquanto no restante do mundo, a média varia entre 20% e 22%.
Outro desafio já comentado anteriormente, é a falta de infraestrutura e a mobilidade urbana defasada que conecta os aeroportos secundários aos grande centros. Após a quebra da Avianca Brasil, os slots do aeroporto de Congonhas que pertenciam à companhia, foram redistribuídos entre os outros três principais players do mercado aéreo brasileiro: Azul, Gol e Latam.
Com isso, não existem mais slots disponíveis em um dos principais aeroportos do país, e operar no Aeroporto Internacional de Guarulhos é bastante custoso por conta das elevadas taxas aeroportuárias.
De acordo com o Diretor Geral da IATA (Associação Internacional de Transporte Aéreo), Dany Oliveira, aeronaves que chegam do exterior possuem um custo 15% maior para reabastecerem e saírem do país.
Além dos custos operacionais, é importante lembrar que as cias aéreas low costs terão que ter paciência, pois o consumidor brasileiro ainda não está acostumado com esse modelo de negócios, ou seja, o mercado nacional ainda terá que passar por um processo de educação. De acordo com uma pesquisa feita com os usuários do Viajala, cerca de 50,2% dos consumidores ainda desconhecem o conceito de low cost.
O real impacto das low costs no mercado brasileiro
A ANAC divulgou recentemente, alguns dados sobre a variação das tarifas aéreas domésticas reais por UF entre os anos de 2018 e 2019 conforme a imagem abaixo:
Segundo o infográfico, as tarifas médias por Estado tiveram um crescimento considerável de um ano para o outro, além da alta do dólar, esse aumento pode ser explicado pela saída da Avianca do mercado aéreo. Segundo o site metabuscador Kayak, os trechos que eram operados pela cia aérea tiveram uma média de aumento de 14% no valor das passagens aéreas.
Como a maior parte das cias aéreas low costs que começaram a operar no Brasil operam somente em voos internacionais, esse cenário não deve mudar tão cedo por conta da falta de concorrência nesses trechos domésticos. Porém, nas rotas internacionais operadas por esses novos players de baixo custo, já houve uma redução de 33% no preço dos tickets aéreos por conta do aumento na oferta.
Ainda é difícil de mensurar com exatidão como será o futuro das lows costs no Brasil, algumas já ameaçam sair do país em virtude de dificuldades operacionais, tributárias e financeiras e com o agravamento dos efeitos do coronavírus (COVID-19) na economia mundial e na queda da demanda por viagens corporativas e lazer.
Essas empresas são muito bem vistas principalmente entre os mochileiros, que podem preferir viajar com essas companhias aéreas ao invés de ônibus, um meio de transporte bastante utilizado entre os brasileiros. Quando falamos sobre o meio corporativo, é necessário uma cautela por parte dos gestores e responsáveis por viagens a trabalho, pois nem sempre o preço mais baixo é mais vantajoso ao colaborador.
É importante salientar também, que existe uma diferença entre low cost x low fare, as empresas low costs possuem um modelo de negócio totalmente diferente e enxuto, com muitas restrições pensando no básico. Nem sempre uma empresa aérea que opera com tarifas baixas é uma empresa low cost.
O setor público ainda estuda maneiras para atrair mais empresas low costs ao Brasil, esse processo pode demorar um pouco, nosso país ainda engatinha, pois apesar de todos os inventivos fiscais e tributários, quando falamos em desburocratizar algumas regras e impostos, é um processo mais delicado, além disso, o território brasileiro possui uma extensão continental, com um mercado grande, porém ainda carece de infraestrutura.