O que está por trás da aquisição da Koin pela Decolar

A Decolar, maior empresa de turismo da América Latina, com valor de mercado de aproximadamente US$ 587M (a segunda é a CVC, com aproximadamente R$ 3B de valor), anunciou na sexta-feira a compra de 84% da fintech Koin, especializada em pagamentos parcelados por boleto, pelo valor de R$ 20M.Entenda as razões por trás desta aquisição e por quê isto pode ser bom para a retomada do mercado de travel.

A Decolar, a  maior empresa de turismo da América Latina, com valor de mercado de aproximadamente U$ 587M (a segunda é a CVC, com aproximadamente R$ 3B de valor), anunciou na sexta-feira a compra da 84%  da fintech Koin, especializada em pagamentos parcelados por boleto, pelo valor de R$ 20M.

Veja o anúncio da aquisição:

anúncio da decolar.com sob a compra da Koin

A transação surpreendeu muita gente do mercado, mas no próprio anúncio, dá pra ter um palpite sobre a tese que apoiou  os argentinos a tirarem R$ 20M do caixa e arrematar a  fatia majoritária da fintech.

Primeiro, vamos entender um pouco o que faz a Koin, sua história e como pivotou muito bem para o turismo:

A Koin nasceu com o propósito de democratizar o acesso ao consumo no Brasil, oferecendo soluções de pagamento pós-pago para o comércio eletrônico, para ser mais claro, eles ofereciam uma opção de pagamento parcelado via boleto onde o cliente só começaria a pagar depois de receber o produto.

Considerando que o Brasil tem 45 milhões de desbancarizados, e a grande maioria desta fatia não possui sequer cartão de crédito, a solução funcionaria como um grande destravador de demanda, como se fosse uma comporta de uma represa que se abre, e jorra uma força absurda de água.

Uma relação ganha-ganha:

Para o e-commerce, maior conversão! E para a Koin, ganhos com juros e tarifas de pagamento.

Esta era, a princípio, a proposta da Koin.

Por que a Koin pivotou para o mercado de turismo?

Tenho amigos, donos de e-commerce, que fizeram testes com a plataforma, há uns 4 anos atrás, e todos reportaram baixa aprovação, ou seja, o cliente comprava via boleto parcelado, e a Koin barrava a transação por suspeita de fraude, natural, considerando a astúcia de pessoas desocupadas e quadrilhas organizadas em fraudes eletrônicas.

O Brasil não é bom só no futebol e no vôley, mas em fraudes cibernéticas, somos um dos melhores também, infelizmente 😉

E nesta linha, foi natural, que depois de bater cabeça alguns anos no comércio eletrônico, a Koin pivotasse para o setor de turismo, onde ela rapidamente virou líder de mercado e emplacou sua solução nas principais OTAs tupiniquins: Submarino Viagens, Hurb e Decolar (argentina, mas com muito verde e amarelo).

Veja uma tela do Koin em ação no checkout da Decolar:

Essencialmente, duas razões fizeram com que a Koin tivesse êxito no turismo:

  • Tíquets maiores que o e-commerce (o tíquet médio do e-commerce é de R$ 380,00), logo, maiores chances do consumidor parcelar;
  • Menor risco, sobretudo pelo fato de boa parte das viagens serem futuras, logo, é possível “derrubar” a reserva, caso haja inadimplência;

O que a Decolar ganha trazendo a fintech pra dentro.

Para a Decolar, a Koin vai trazer competências financeiras para o grupo, em mais de 5 anos a Koin construiu ativos digitais valiosos referentes a análise de risco e distribuição de crédito, além de um time com sólido background tecnológico.

Olhando os números apresentados, o valor que foi transacionado pela fintech dentro da Decolar, ainda é baixo, apena R$ 13M, mas não se sabe se isto foi resultado apenas de uma POC ou se é restrito a um período menor (não consegui ouvir o webcast).

Mas, findado a Covid-19, com boa parte da população querendo viajar, e endividada, existe uma oportunidade enorme em acelerar a demanda através de concessão de crédito.

E a Koin sabe muito bem como fazer isto.

Como benchmarking, duas empresas no Brasil já fazem isto muito bem: Vai Voando do grupo Flytour, e a Hurb (antiga Hotel Urbano).

Com esta nova competência, a Decolar pode aumentar consideravelmente seu faturamento, de forma que o investimento de R$ 20M pagos pela Koin, volte rápido para o caixa da empresa.

Dá para beber direto da fonte aqui

Vantagens de M&A para o Ecosistema e para o setor de turismo

Para o ecossistema de startups, movimentos de M&A (fusão e aquisição) trazem mais liquidez, é como giro no varejo, investidor entra, empresa cresce, depois a empresa é vendida para algum player estratégico, ou faz alguma abertura de capital, que permite a saída dos investidores originais, com alguma vantagem financeira (muitas empresas, claro, irão quebrar no meio do caminho).

Esta roda girando beneficia todo o mercado de inovação: mais investimento ,mais crédito, mais empresas sendo criadas, mais empreendedores acordando as 06:00 e durmindo as 23:00 para fazer coisas relevantes.

Parabéns  a Koin pela trajetória, negociação com os argentinos e sucesso com seus novos acionistas.

A Decolar anunciou que deve fazer mais aquisições no futuro, após a recente capitalização de U$ 200M (Mais de R$ 1B em reais), visando negócios com atuação no Brasil e no México, com foco em lazer, que tenha força online e possui marca forte.

Sucesso na procura 😉

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Marcelo Linhares
Marcelo Linhares

Marcelo Linhares é um dos fundadores da Onfly, possui mais de 10 anos de experiência em marketing digital e varejo omnichannel, nos últimos 2 anos estudou o mercado de viagens e percebeu que as agências tradicionais trabalhavam da mesma forma há 20 anos, e resolveu criar a Onfly para transformar este mercado. Ele está sempre disponível no e-mail marcelo@onfly.com.br

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